No dia 13 de dezembro de 1912 no Exu, Pernambuco, nascia Luiz Gonzaga. E para comemorar o aniversário deste sagitariano, publico aqui na íntegra uma pequena homenagem que fiz ao Rei do Baião, gênio da sanfona e a um dos maiores cantadores e tocadores de berimbau da capoeira: Mestre Waldemar. O cordel ENCONTRO DE LUIZ GONZAGA COM MESTRE WALDEMAR NO CÉU foi publicado originalmente em 2007 e pela primeira vez estou disponibilizando o texto completo na internet. Espero que gostem. Feliz aniversário LUIZ GONZAGA!
ENCONTRO DE LUIZ GONZAGA COM MESTRE WALDEMAR NO CÉU
Autor: Victor Alvim(Lobisomem)
Ouvi contar uma história
Que vou narrar pra vocês
Um fato inusitado
Que alguém duvide talvez
Um encontro dos dois poetas
Que aconteceu certa vez
Dois homens bem renomados
Na cultura popular
Amavam seus instrumentos
Eram mestres no tocar
E a vida do nosso povo
Descreviam ao cantar
Mil novecentos e doze
Luiz Gonzaga nascia
E quatro anos depois
Waldemar quem chegaria
Gonzaga em Pernambuco
E Waldemar na Bahia
Luiz Gonzaga na sanfona
Foi um mestre sem igual
E Waldemar da Paixão
Foi mestre no berimbau
Nasceram com este dom
Do talento musical
Luiz Gonzaga e Waldemar
Passaram a vida cantando
O baião e a capoeira
Pelo Brasil divulgando
A sanfona e o berimbau
Sempre lhes acompanhando
Nunca tive a informação
Que houvessem se encontrado
Tiveram muito em comum
Mas cada um no seu lado
Se pudesse eu teria
O encontro realizado
Depois de muito cantar
E cumprir sua missão
No ano de oitenta e nove
Partiu o rei do baião
Foi se encontrar com São Pedro
Santo Antônio e São João
E aproximadamente
Um ano depois partiu
Waldemar da Pero Vaz
Da Terra se despediu
No rastro de Luiz Gonzaga
Para o céu também subiu
Foi aí que ocorreu
Este acontecimento
Waldemar e Luiz Gonzaga
Sem marcar apontamento
Acabaram se encontrando
Lá dentro do firmamento
Luiz Gonzaga, o famoso
O grande rei do baião
Encontrou-se com o mestre
Seu Waldemar da Paixão
Resultando em cantoria
De alegrar o coração
Waldemar quando chegou
Foi muito bem recebido
Pois Jesus Cristo sabia
Que pro bem tinha vivido
E São Pedro o recebeu
Como um filho querido
Com seu berimbau na mão
Waldemar no céu entrou
Avistou Luiz Gonzaga
E dele se aproximou
Disse: - Lua eu sou seu fã!
E a sua mão apertou
Luiz Gonzaga respondeu:
- De você já ouvi falar
E eu também sou seu fã
Saiba disso Waldemar
O meu sonho sempre foi
Um dia lhe ouvir cantar!
O mestre Waldemar disse:
- Assim fico acanhado
Luiz Gonzaga eu estou
Um tanto emocionado
De ter a oportunidade
De estar aqui ao seu lado!
Luiz Gonzaga disse assim:
- Waldemar isso é verdade
Eu sempre sonhei ir vê-lo
No bairro da Liberdade
Mas com a vida corrida
Não tive a oportunidade
Waldemar então falou:
- Não sei nem o que dizer
É grande a satisfação
De poder lhe conhecer
E espero que a sua
Amizade eu possa ter
Com os olhos mareados
Luiz Gonzaga disse: - É sorte
Desfrutar dessa amizade
Mesmo que depois da morte
Waldemar venha aqui
Me dê um abraço forte!
E os dois se abraçaram
Transbordando de alegria
Logo depois decidiram
Fazer uma cantoria
Tiraram “cara ou coroa”
Pra ver quem começaria
Luiz Gonzaga pegou
A sanfona e foi primeiro
Cantou “Baião”, “Pau de Arara”
“Assum Preto” e “Juazeiro”
A “Moda da Mula Preta”
“Pé de Serra” e “Boiadeiro”
Waldemar gostava muito
Não parava de sorrir
Quando Luiz terminou
Começou a aplaudir
Disse: - Agora é minha vez
De poder retribuir!
Waldemar então pegou
Seu instrumento querido
O “Ás de Ouro” empunhou
Seu berimbau preferido
E disse: - Luiz Gonzaga
Pode fazer seu pedido!
Luiz Gonzaga pediu
“A Peleja de Riachão”
Os versos de um cordel
Na forma de uma canção
Uma linda ladainha
Cantada com o coração
E depois do “Riachão”
Gonzaga pediu também
“A Donzela Teodora”
E “A Vida de Pedro Cem”
Pois os versos de cordel
Waldemar canta tão bem
Waldemar cantou mais uma
Foi “O Valente Vilela”
Luiz Gonzaga aplaudiu
Gostava muito daquela
Estrofe que se tornou
Ladainha da mais bela
São Pedro vinha passando
Parou para escutar
E depois disse: - Meninos
Vou ter que lhes confessar
O meu sonho sempre foi
Ver vocês dois a cantar!
Luiz Gonzaga e Waldemar
Se olharam admirados
Com a confissão de São Pedro
Ficaram lisonjeados
Continuaram o canto
Ainda mais animados
São Pedro lhes perguntou:
- Posso fazer um pedido?
E os dois lhe responderam:
- São Pedro santo querido
Seu pedido é uma ordem
De pronto será atendido!
São Pedro disse: - Lá vai
O meu pedido então
Quero ver Luiz Gonzaga
Com Waldemar da Paixão
Cantando a “Asa Branca”
Que é o hino do sertão
- Com berimbau e sanfona
“Asa Branca” irão tocar
Chamarei todos os santos
Para virem escutar
Também um coral de anjos
Para lhes acompanhar
Waldemar e Luiz Gonzaga
Começaram a tremer
O pedido de São Pedro
Teriam que atender
Refletiram e responderam:
- Não temos o que temer!
Todos os santos vieram
Para ouvir a sinfonia
Veio até Jesus Cristo
Com a mãe Virgem Maria
E um coral com cem anjos
Que a eles se juntaria
E o céu ficou em festa
E parou todo pra ver
Ao pedido de São Pedro
Que a dupla ia atender
Era coisa imperdível
Pra nunca mais esquecer
Luiz Gonzaga na sanfona
Puxou a introdução
Waldemar no berimbau
Foi fazendo a marcação
E os dois cantaram juntos
Em frente a uma multidão:
“Quando olhei a terra ardendo
Qual fogueira de São João
Eu perguntei a Deus do Céu
Porque tamanha judiação
Eu perguntei a Deus do Céu
Porque tamanha judiação”
O grande coral de anjos
Acompanhava cantando
Ao clássico “Asa Branca”
Que iam interpretando
E uma grande luz se fez
A todos iluminando
São Pedro bem satisfeito
Realizado sorria
E a grande multidão
Que a tudo assistia
Emocionada e de pé
Todo tempo aplaudia
Lá no meio da platéia
Januário e Gonzaguinha
Januário orgulhoso
Daquele filho que tinha
E Gonzaguinha gritava:
- Que bela família a minha!
Os mestres Bimba e Pastinha
Amigos de Waldemar
Com os olhos mareados
Começaram a relembrar
Os bons tempos da Bahia
Ao ouvirem seu cantar
Ao fim todos aplaudiram
Tomados pela emoção
Foi assim que aconteceu
A grande apresentação
No encontro de Luiz Gonzaga
Com Waldemar da Paixão
FIM
Janeiro/2007